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Tim Harford, o economista que nos quer pôr a fazer contas para perceber o mundo – Observador
Tim Harford é um economista que tem uma relação próxima com o público não especializado, seja através dos livros ou dos podcasts e programas de rádio. Livros como O Economista Disfarçado ou 50 Coisas Que Mudaram o Mundo são ferramentas úteis para o cidadão comum, quer esteja por dentro ou não da Economia. Não estando, Harford propõe-se a ajudar tais curiosos a olhar para o mundo de uma forma menos cínica, a encontrar ligações e a fazer as perguntas certas, antes de ter uma opinião ou uma emoção. Tendo isto em conta, o novo livro do britânico, O Que Os Números Escondem, foi publicado com um timing mais que certo, garantindo mesmo que tem “10 regras para aprender a decifrar informação e compreender melhor o mundo”.
Mas o livro não fala – bom, fala, mas não diretamente – da pandemia que atravessamos. Fala de estatística e de como pode ser usada a bem da verdade. Tim Harford resolveu escreveu este livro um pouco por reação ao seu programa de rádio na BBC4, “More or Less”: quer que as pessoas passem a desmontar os números, não contra a mentira, mas a favor da verdade. O livro está cheio de exemplos sobre como os números enganam, enganaram e nos podem continuar a enganar. Mas também está cheio de histórias que nos enchem de ferramentas para vencer os vícios do cérebro. E, no final, revela-se mais como um livro cheio de utensílios para olhar e pensar o mundo, do que um livro “simplesmente” sobre números. Embora sejam eles a origem de tudo o que aqui se lê.
▲ A capa de “O que os números escondem”, de Tim Harford (Objectiva)
Este livro surge nesta altura com uma pontaria assinalável…Bom, não previ que algo como o que estamos a viver iria acontecer…Porque a importância dos números na sociedade, e do uso quotidianos desses números é cada vez maior, mesmo sem uma pandemia, é isso?No meu papel de intérprete de estatística no Reino Unido e, cada vez mais, no mundo, estou sempre em contacto com a forma como os números são bem e mal usados. Uma das razões que me levaram a escrever o livro foi a preocupação exagerada que a sociedade tem com o mau uso dos números. As pessoas diziam – em relação ao meu podcast – de que gostavam do meu programa, e de como chamava a atenção para o mau uso dos números e das falsas estatísticas. Gosto que as pessoas digam que me ouvem e que gostem do meu programa, mas ao mesmo tempo isso faz-me sentir desconfortável, porque não é só sobre as mentiras, as estatísticas falam também sobre a verdade. E as estatísticas podem ser bem usadas. Quando a pandemia começou, reescrevi algumas partes do livro. Mas não foi algo difícil de fazer, porque um dos argumentos do meu livro é a importância da estatística: é matéria de vida ou de morte, mostra-nos os factos importantes do mundo. De repente, isso tornou-se óbvio. Toda a gente o conseguia perceber. E a pandemia continuava a dar-me exemplos relevantes daquilo que andava a dizer há anos.Não coloca a hipótese de que, não só devido à pandemia, mas ao modo como tudo é questionado hoje, o seu livro possa ser mal usado? Que reforce a ideia de que as pessoas procuram a mentira nos números e não a verdade?Espero que motive as pessoas a ver os números de uma forma mais prática. Como já disse, queria que as pessoas fossem lembradas de que o mundo pode ser percebido pelos números: eles podem ajudar a compreender a verdade. A segunda razão que me levou a escrever este livro é a de que queria ajudar as pessoas a perceber os filtros e os vícios que moldam a forma como interpretam tudo. Por exemplo, durante o Brexit existiam dois lados: um deles queria evidências, o outro queria dados. Mas depois há pessoas que só têm sentimentos, é isso que as faz decidir o que querem dizer, em cada um dos lados. Até percebermos os nossos próprios sentimentos, os preconceitos, não vamos entender o mundo de forma clara. Há muitos bons livros sobre estatística no mercado. Mas este dois pontos que mencionei são tópicos que normalmente não são abordados.
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